quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Burros Motivados!

Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe.
O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura!
Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a serem gerentes, e essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados.
Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu à pena, porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa de seus sonhos. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha no condomínio onde moro possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros.
São pessoas que sabem pedir desculpas e admitirem que erraram.
Na minha infância, minha mãe vendia doces de porta em porta, limpava os vidros dos apartamentos dos vizinhos, e meu pai, apesar de Arquiteto, já havia feito sua passagem para o outro plano em um desencarne fruto da violência urbana. Morávamos em um bairro que, na época, era considerado um "Conjunto Habitacional", condomínios de apartamentos de nível popular. Minha mãe, neste ano de 2010, debutará as bodas de pérola de um segundo casamento, este bem sucedido, é Consultora ícone de uma grande empresa de cosméticos e o caráter e brio que eu e minha irmã carregamos foram frutos de anos de dedicação à prole... Ela sim pode ser considerada uma heroína, que apesar da viuvez precoce, conseguiu criar seus filhos e ainda conseguiu reconstruir sua vida. Hoje, ainda mora no tal conjunto habitacional, mas o bairro é considerado por muitos moradia de classe média.
Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito "100% Jardim Irene".
É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. Referindo-me ao ego de minha mãe, não posso deixar de salientar que às vezes penso que ela esqueceu que um dia vendeu doces em compota e limpou os vidros dos vizinhos! Sempre resgatar suas raízes, lembrar de onde se veio com boas lembranças e orgulho é um paradoxo positivo, comparado à vivência pelas aparências e preocupações com o que o outro vai achar de você. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje mais de 10% da população. Em países como o Japão, a Suécia e a Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher, que embora não ame mais o marido, mantém o casamento falido, ou o homem que passa décadas em um emprego, que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro. O resultado disso é a Paranóia e a Depressão cada vez mais precoce.
O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. O filho quer tocar piano, mas o pai insiste que ele seja o melhor jogador de futebol da escola. A filha quer pintar e desenhar, mas a mãe insiste que ela seja a melhor bailarina do Municipal. Aos nove ou dez anos a depressão aparece! A única coisa que prepara uma criança para o futuro, é ela poder ser criança...
Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância de suas proles, além de transferir suas próprias frustrações para a vida dos filhos, como se, dessa forma, tivessem uma segunda chance de realizar seus sonhos... Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas.
Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo, porque já virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência.
Um Presidente de uma Editora entrevistou certa vez uma moça que respondia todas as perguntas com uma ou duas palavras. O interlocutor disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela respondeu estar muito interessada, mas como falava pouco, pediu que se pesasse o desempenho dela, e não a conversa, até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Foi contratada na hora! Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa...
Mas há um script estabelecido? Sim! Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional no programa "O Aprendiz"?

- Qual é seu defeito?

Todos respondem que o defeito
é não pensar na vida pessoal:

- Eu mergulho de cabeça na empresa...
Preciso aprender a relaxar!

É exatamente o que o Chefe ou o recrutador quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido?
É contratado quem é bom em conversar, em fingir.
Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.
O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta disse em certa entrevista:

- Ninguém chega à vice-presidência sem mentir!

Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor!
Socialmente temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas e cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento.
Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência... Portanto, tomemos cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função, para a qual não está preparado.
Fui Professor de Informática na década de 90 e na primeira década do terceiro milênio, e me orgulho de contar que alguns alunos da terceira idade, alguns negros e dois alunos com deficiência auditiva foram exemplos que tenho de melhores alunos. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes que, em uma pseudo sabedoria comercial, não fariam as matrículas de alunos com os perfis citados.
Hoje, o garoto sai da faculdade de medicina com o diploma debaixo do braço achando que sabe fazer uma neurocirurgia! O Brasil está formando incompetentes, e ninguém acordou ainda para enxergar isso... Não está sobrando auto-estima, e sim faltando às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o "Ter" conseguia substituir o "Ser"... O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser, nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam, parecem que dominam este ou outro assunto, mas poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil, que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.
Deixamo-nos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência, mas na verdade isso é fruto do vazio que sentimos.
Continuamos a valorizar os heróis:
Quem vai salvar o Brasil?
O Lula...
Quem vai salvar o time?
O Técnico...
Quem vai salvar o meu carro?
O Mecânico...
Quem vai salvar o meu relacionamento?
O Terapeuta...
O problema é que eles não vão salvar nada! Tenho um Mestre em Filosofia, Humanismo e Existencialismo que diz:

- Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a Rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham!

Pode parecer incrível, mas a Rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo, e só ela, somente ela sabe o que ela faz quando está sozinha. Devemos parar de procurar super-heróis, porque se o super-herói não segurar a onda, todo mundo o considera um fracassado. O conceito muda quando a expectativa não se comprova, e não somos um super-herói nem um superfracassado. Acertamos, erramos, temos dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula, em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se entendermos que a responsabilidade pela própria vida é absolutamente nossa e não do outro, não do marido ou da esposa, não do Dunga, não do Lula... Não há coitados ou culpados, apenas responsáveis!
Muitas pessoas acham que é fácil escrever sobre essas coisas, pois dizem que é muito fácil escrever sobre aflições e angústias alheias. Tenho minhas angústias e inseguranças como qualquer mortal em evolução, e falar sobre elas, questioná-las, aceitá-las faz minha vida fluir mais facilmente.
Há várias coisas que eu queria e não consegui, e também existem várias coisas que quero, algumas próximas, outras distantes, e outras atualmente fora do meu alcance, mas todas estarão sob a palma de minhas mãos se eu quiser, se eu trabalhar e lutar pelo que quero.
Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles(rs!), andar de ônibus, ou de Ferrari, viajar de classe econômica, ou primeira classe, ou de lotação...
É preciso, primeiramente, saber o que se quer...
Se você tivesse um(a) filho(a) com deficiência mental, uma criança especial, você amaria este(a) filho(a) do jeito que é, ou você iria massacrá-lo(a) o resto da vida para ser o(a) filho(a) que você gostaria e sonhou que fosse?
Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo.
O resto foram apostas e erros... Decisões!
As pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência, e o primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las.
São três fraquezas:
- A primeira é precisar de aplausos;
- A segunda é a necessidade
de sentir-se amado(a);
- A terceira é a busca
quase insana pela segurança.
Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Will Smith, em "A Procura da Felicidade", foi à entrevista de emprego todo respingado de tinta, maltrapilho, mas tentando foi que ele obteve a certeza do resultado final. Hoje, por exemplo, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno, ensinando a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates.
O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades, seus próprios talentos, suas próprias aptidões.
Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus, pois a sociedade quer definir o que é certo
São quatro as loucuras da sociedade:
- A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se eles não tivessem significados individuais;
A segunda é cobrar das pessoas de estarem felizes todos os dias;
A terceira é influenciar as pessoas para comprar tudo o que puder, e o resultado é esse consumismo absurdo que se vê!;
- Por fim, a quarta loucura é a pressão de fazer as coisas do jeito certo... Jeito certo não existe!
Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito.
Tem gente que diz que não será feliz, enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento.
Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo à praia ou ao cinema...
A felicidade é feita de coisas pequenas e é encontrada no simples do simples do simples!
Ninguém, na hora do desencarne, diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.
A vida é assim...
E assim se segue...
NAMASTE!

1 Comentário

EVELIZE SALGADO disse...

Bingo! Perfeito!
Namaste!

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